Por: Deise Ferraz
A junção entre mercado de trabalho informal e ideologia do empreendedorismo gestou o bom e velho lumpemproletariado!
Lumpemproletariado é expressão usada para definir um grupo social composto por indivíduos de todas as classes sociais que fazem qualquer coisas para frear as forças da mudança, seja ela qual for. Isso porque temem perder a condição de vida que têm, seja ela de miserabilidade ou não. O medo é do desconhecido e não da pobreza.
O lumpem que diz "O Brasil não pode parar!" é formado majoritariamente por, pelo menos, dois tipos de indivíduos: 1) o trabalhador totalmente desamparado de direitos sociais e do trabalho e 2) o médio e pequeno empresário.
Não é preciso dizer muito sobre a constatação histórica de que metade da população brasileira atua como trabalhadora e trabalhador informal. Tampouco é necessário explicar que um número expressivo desses informais não são assistidos pelas políticas sociais dada a opção de somente atender aquelas e aqueles que vivem na miserabilidade.Também não precisamos dizer muito sobre o fato do médio e pequeno empresário não acumularem capital de fato! Até há formação de valor, mas acumulação, não. O grau de mortalidade das pequenas e médias empresas já falava por si antes do Covid19.
Então, a campanha "O Brasil não pode parar" no revela o quê?
Revela a força do ideário da grande burguesia sobre a pequena burguesia e os trabalhadores e as trabalhadoras informais.
Foi dito ao grupo 01 que eles eram EMPREENDEDORES. Foi dito ao grupo 02 que eles eram CAPITALISTAS.
Não se trata de mentiras, é claro! Na imediaticidade da vida, eles se percebem como tais, afinal o grupo 01 não tem um patrão formal e o 02 é patrão ainda que informal (irônico! Para ser patrão não preciso formalidade, mas para ser trabalhador e trabalhadora...)
Mas, mais importante do que dizer o que eles eram, foi dizer que "EMPREENDEDOR E CAPITALISTA" são “vencedores pelo trabalho (árduo)” e que o ESTADO atrapalha o trabalho deles!
Pronto... acreditaram!
E, agora, enquanto os GRANDES CAPITALISTAS MUNDIAIS, aqueles que acumulam de fato (ainda que de tempos em tempos dizem ter prejuízo, na rotação geral do capital, uma coisa não exclui imediatamente a outra), aguardam o ESTADO abrir os cofres (vide banqueiros), afinal, esse sabem que Estado não atrapalha assim como eles mesmo dizem; o grupo 01 e o grupo 02 atuam como lumpemproletários: não cobram do ESTADO a solução que, nesse momento, seria o agente central para garantir a permanência do movimento do Capital, manter as condições necessárias para depois seguir "a normalidade".
Tampouco o grupo 01 e 02 agitam o movimento da classe trabalhadora - que também está confinada entre cercas ideológicas - para dar fim ao movimento do Capital e, finalmente não voltarmos à doentia e desumana normalidade do capital.
O lumpem só consegue encontrar a solução dentro de seu limitado horizonte: trabalhar! Seja para conseguir o pão via trabalho informal, seja para explorar trabalhadores e trabalhadoras, visando manter o pequeno ganha pão em funcionamento.
E o Estado? Ah! Ele só não pode atrapalhar com esse negócio de ISOLAMENTO.
A boa notícia para esse lumpem é que "O Brasil não vai parar" de fato porque soubemos eleger o senhor dos lumpens… A má notícia para todos e todas é que isso tem um preço. E não é expresso nem em dólares, nem em reais... mas em vidas. (mas não se preocupem, os economistas já estão capacitados para minimizar os $ da vida. Basta encontrar outra causas mortis: o Brasil não parou e a pessoa não morreu de Covid19, ela só morreu. E quem é que não morre, né?!)
PS. Porque não somos santos... tomara que esses que querem o fim do isolamento não morram, seria sofrimento pouco!
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