Trabalho e saúde no sistema prisional e socioeducativo: pesquisa-intervenção e extensão dialógica entre pesquisadoras e trabalhadoras organizadas
O projeto Trabalho e saúde no sistema prisional e socioeducativo: pesquisa-intervenção e extensão dialógica entre pesquisadoras e trabalhadoras organizadas buscou identificar as relações entre os processos de trabalho e a saúde de Auxiliares, Assistentes e Analistas do Sistema Prisional de Minas Gerais. O projeto foi realizado por meio da parceria entre grupos de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Nec-TraMa e LabTrab) e do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) com o Sindicato dos Servidores Técnicos e Administrativos do Sistema Prisional e Socioeducativo de Minas Gerais (SINDASEP/MG) a partir de um processo metodológico da produção compartilhada de conhecimento.
Este projeto desenvolveu desenho metodológico de pesquisa-intervenção em diálogo teórico e metodológico com as experiências do Movimento Operário Italiano (Oddone et al. 2020) e da atualidade da Pesquisa Participante com trabalhadores/as (Bechara-Maxta (2022); Pina et al. (2021); Noriega and Villegas (1993)) considerando os acúmulos e as formas de composição do conhecimento pelo SINDASEP-MG. O instrumento Grupo de Trabalho em Saúde, composto por pesquisadores e trabalhadores sindicalizados e gestores sindicais, foi constituído na construção coletiva das investigações e intervenções, logo para a constituição da produção compartilhada do conhecimento com a organização e bases sindicais.
Resultados
ENQUETE
A enquete Trabalho e Saúde de Auxiliares, Assistentes e Analistas do Sistema Prisional de Minas Gerais foi uma das etapas da Pesquisa-intervenção.
O levantamento de dados foi realizado entre os meses de abril e outubro de 2024 por meio da plataforma virtual Research Eletronic Data Capture (Harris et al. 2019). Participaram deste estudo trabalhadores e trabalhadoras das categorias profissionais de auxiliares, assistentes e analistas do Sistema Prisional de Minas Gerais.
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Resultados
INVESTIGANDO O QUE NOS ACIDENTA, ADOECE E MATA
O cárcere acidenta, adoece e mata os seus trabalhadores e trabalhadoras.
E isso não ocorre apenas no Sistema Prisional de Minas Gerais.
Em linhas gerais, tem sido identificado poucos estudos voltados ao corpo técnico de trabalhadores e trabalhadoras em sistemas prisionais nacionais e internacionais. E nos estudos existentes, a saúde das/os trabalhadoras/es é comumente apresentada no escopo acadêmico como um estado momentâneo, uma fotografia, quase sempre caracterizado pela associação de uma manifestação a um fator do processo de trabalho com abertura para a possibilidade reconhecer o seu nexo causal e/ou fatores de risco no trabalho. Desconsidera-se, então, a situação da saúde-doença dos/as trabalhadores/as não policiais do cárcere como processo social, no qual o dispêndio diário das energias físico-psíquicas desta força de trabalho é, frequentemente, submetido a processos de trabalho, cujas cargas de trabalho implicam - não sem resistências individuais e coletivas - em formas de desgastes de seus corpos e de limitações para a sua reprodução, as quais manifestam-se, muitas vezes, em acidentes, adoecimento e mortes antes mesmo de se tornar evidentes em termos epidemiológicos (Laurell and Noriega 1989a; Laurell 1982).
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Resultados
SOBRE AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DE AUXILIARES, ANALISTAS, ASSISTENTES E MÉDICOS DA DEFESA SOCIAL EM MINAS GERAIS
Os auxiliares, assistentes, analistas e médicos/as entendem (75,9%) que a sua atual situação de saúde na relação com o adoecimento possui relação com o trabalho desempenhado nas unidades prisionais. Este entendimento não decorre apenas de uma percepção, opinião ou avaliação subjetiva da base de trabalhadores/as, pois a maioria (66,9%) já adoeceu ou se acidentou em decorrência do trabalho no Sistema Prisional.
As condições de trabalho nas unidades prisionais revelam, nas salas destinadas aos atendimentos dessa categoria profissional, um conjunto de elementos que não apenas as constituem, mas também evidenciam as contradições inerentes aos processos de trabalho, as quais conformam os processos de saúde e doença vivenciados pelos/as trabalhadores/as. O acesso à internet não é possível, e o uso de telefones celulares é impedido. Essas condições de trabalho impõe aos trabalhadores do corpo técnico do Sistema um brutal isolamento. A baixa qualidade de cadeiras tem obrigado as/os trabalhadoras/es a passarem o dia em condições ergonômicas prejudiciais a custo médio e longo prazos às estruturas e funções do corpo ou, como indicam relatos de campo, comprarem com seus salários móveis mais adequados, equipamentos e instrumentos que possibilitam a realização do seu trabalho.
Foi escrito um extenso relatório baseado nas entrevistas, visitas técnicas e grupos de trabalho realizados no âmbito do projeto. Te interessou saber a realidade desses trabalhadores e como isso se relaciona com a gestão pelo medo praticada pelo estado burguês? Clique aqui pra ler o relatório na íntegra.
Documentário:
"Memória SINDASEP-MG: breve relato de igualdade, liberdade e luta"
Um dos produtos resultantes do projeto, foi um mini documentário que traz a história do Sindicato dos Auxiliares, Assistentes e Analistas do Sistema Prisional e Socioeducativo do Estado de Minas Gerais (SINDASEP/MG). São relatos de quem fez e faz parte dessa luta. Confira abaixo essa história: