Por Tarcísio Alves dos Santos
Eu não queria mais ver esse mundo, nem sentir o que sinto.
Às vezes não quero me ver no espelho, nem ver minhas rugas, nem a tristeza no olhar.
Às vezes me sinto flagelado, não é todo dia, mas é certo que sinto...
Hoje, ontem, talvez sim, talvez seja todo dia.
Chamaram-me de vagabundo, logo eu, eu, que trabalho de sol a sol. Eles ficam por ai, acordam perto do meio dia, voltam uma hora depois para casa. Nunca me veem, olham números e uns gráficos, nunca construíram nada, A mão nunca pegou em um martelo ou uma foice, Mas eu sou o vagabundo, certamente uma inescrutabilidade até para o homem modesto. E o que eu valho? Certamente o quanto minha força de trabalho vale.
Talvez não valha muito, já estou velho, seria melhor acabar com essa miséria.
Mas os que vêm depois de mim? Será que eles veem o que eu vejo?
Não, certamente não veem. Nem eu estou tão certo do que vejo.
Mas nesse caso a dúvida é minha aliada, melhor que a certeza da incerteza.
Eles me negam o passado e me fazem acreditar em palavras vazias e um mundo de ilusão. Não vejo essa tal prosperidade que me dizem - apenas calos nas mãos e o suor do meu rosto. Será que em outro momento na história as coisas poderiam ser melhores ou piores?
Será que existe em algum lugar uma justiça? Se existir não me parece ser aqui.
Vejo pessoas morrendo de inanição enquanto outras ganham dinheiro com os mortos.
Para cada morto há um punhado de dinheiro. E quem ganha mais?
E eles dizem que posso ser igual a eles, que podemos ser iguais, que a igualdade chegará, Mas eu não vejo isso. Não vi isso no tempo do meu avô, nem do meu pai, nem hoje...
Hoje parece tanto com ontem e anteontem que às vezes até me perco no tempo.
Essa igualdade não virá assim, o mundo não mudará assim, não me enganem.
Mas como modificar o mundo e a sociedade se eles já sabem o que penso? Aparentemente o mundo sempre foi assim e sempre será assim.
Mas por que as coisas sempre foram assim? Desde quando? Quem definiu?
Por que tenho que comer de garfo e faca se às vezes me falta até o alimento para comer? Talvez seja melhor ficar calado, nem tenho mais tanto tempo para pensar assim. Entretanto, o que irei fazer: deixar que suas ideias sejam o mundo? Elas não são!
O mundo sou eu e você, somos nós, não as ideias deles. Eles também não são ideias. Talvez tenha que tirar o véu de suas faces e gritar até que seus tímpanos sacudam. Temos que nos unir e modificar o mundo olhando para ele até ele nos aparecer.
O mundo esconde seus enigmas na história do próprio mundo. É isso!
Eles não querem que saibamos, querem nossa lealdade e silêncio.
Mas não precisamos da lealdade deles, eles já tem o dinheiro,
O capital, suas riquezas, ganância, e nós temos uns aos outros.
E é isso que importa companheiros. Que eles se calem ou falem as paredes. Avante! Já não tenho mais medo de me ver! Avante!
Cadê meu espelho? Já não estou tão velho assim...
Quero me ver novamente, quero ver vocês, todos nós, juntos, unidos. Querem que vocês se vejam assim como são, não se neguem!
Quero ver um novo mundo no qual as ideias passam a ser reais.
Nós somos maiores porque temos dignidade, sim, temos dignidade. Não queremos ser moeda de troca. Que troca?
Queremos ser nós mesmo, não o que disseram que éramos.
Não queremos ser moedas de troca.
Não! Não queremos! Avante! Avante, companheiros!
*Este poema foi apresentado como trabalho final no curso de extensão "Ciclo de Estudos Clássicos do Pensamento Econômico Filosófico: Edição Marx e Engels, com coordenação da profa. dra. Janaynna Ferraz e recursos da PROEX/UFRN.
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